domingo, 9 de março de 2014

A metáfora da Teia de Aranha e o Envelhecimento. Edna Domenica Merola

Edna
As aranhas têm se tornado símbolos comuns na arte e mitologia, simbolizando paciência, crueldade e criatividade. Já a teia de aranha é associada, no senso comum, ao abandono ou falta de limpeza numa moradia. No entanto, sempre podemos usar a criatividade e a paciência como antídotos naturais contra a crueldade do envelhecimento.

Em 07/3/2014, tive o grato  prazer de assistir a aula da Disciplina Metodologia Científica, ministrada pela Professora Maria Celina da Silva Crema, enquanto aluna regularmente matriculada de um curso de Especialização promovido pela UFSC, subvencionado pelo Ministério da Saúde, a saber: Atenção à Saúde da Pessoa Idosa.

Na referida aula, tive a oportunidade de lembrar a figura de Madre Teresa de Calcutá falecida em 1997, aos 87 anos de idade. Ela foi uma missionária católica de etnia albanesa e naturalizada indiana. Foi beatificada pela Igreja Católica em 2003.
A lembrança dessa heroína dos pobres poderia ter vindo em homenagem ao dia das mulheres, mas deu-se por meio da leitura do texto de Madre Teresa que segue: 

                   Tenha sempre em mente que a pele enruga,
                   O cabelo embranquece e os dias convertem-se em anos...
                   Mas o que é importante não muda.
                   A sua força e convicção não tem idade.
                   O seu espírito é como qualquer teia de aranha.
                   Atrás de cada linha de chegada há sempre uma de partida
                   Atrás de cada conquista, vem um novo desafio.
                   Enquanto estiver vivo, sinta-se vivo...
                   Se sentir saudades do que fazia, volte a fazer.
                   Não viva de fotografias amarelecidas...
                   Continue, quando todos esperam que desista.
                   Não deixe que enferruje o ferro que existe em você.
                   Quando não conseguir correr através dos anos, caminhe.
                   Quando não conseguir caminhar, use uma bengala...
                   Mas nunca se deixe deter... 

Durante a aula, lembrou-nos a professora Celina, que a leitura envolve, além da decodificação e da compreensão da mensagem, a assumpção de posicionamento crítico acerca do lido, da mensagem. (LUCKESI, 1985, p. 145).
Em casa, ponderei que me posicionar criticamente diante do sabor estético é extremamente prazeroso. E resolvi descrever como o experimentei.
O texto é poético: exorta para o despertar de emoções vigorosamente positivas.
No entanto, seu universo vocabular agrega as expressões negativas tais como: ‘pele enruga’, ‘cabelo embranquece’, ‘teia de aranha’, ‘linha de chegada’, ‘fotografias amarelecidas’, ‘esperam que desista’, ‘bengala’.
O manejo exortativo de Madre Teresa inicia pela conscientização da realidade da passagem do tempo para o ser humano. Para tal, desenha a velhice e o final da vida.
Prossegue em seu manejo e nos leva a visualizar uma teia de aranha, mas não do ângulo de quem deixou um canto de sua casa vazio e sem cuidado e ‘o perdeu’ para um ser repugnante como uma ‘aranha’.
A imagem poética construída por Madre Teresa nos mostra a teia como trabalho incessante da aranha... Trabalho que aparenta finalizar se olharmos as linhas retas que têm começo e fim...  Mas que é constante, ainda que seja leve e tênue... É provisório em seu sentido renovador, atualizador... Trabalho cujo produto é uma trama circular e inacabada... Uma trama apta a ser reconstruída perenemente.
Assim vi a construção do trabalho textual de Madre Teresa a que me reporto: tal qual o de uma aranha que mora sobre o fio que agora tece. E só posso dizer que textos assim não ficam amarelecidos nos fundos de ‘velhas’ gavetas.
Textos assim vivem aqui e agora na cumplicidade de seus leitores, em suas leituras ‘circulares’.

Um comentário:

  1. aqui agora é o grande segredo para curtir a velhice e fazer traquinagens por pura diversão

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