Livro: El hombre de la bahía del pájaro carpinteiro (La vida de Lucas Bridge)
Autor: Aimé Tschiffely
Sinopse:
A biografia deste inglês, Lucas Bridge, filho de missionário na Terra do Fogo (Argentina) mostra como o invasor foi chegando e tomando conta das terras indígenas aos poucos, com diferentes estratégias. Isto ocorreu em meados do século XIX, da mesma forma que ocorreu no Brasil a partir do ano de 1500 (século XVI). Alguns destes primeiros invasores da Terra do Fogo, foram violentos e mataram muitos habitantes nativos. Lucas Bridge, ao contrário, conquistou e se tornou amigo e protetor dos índios. E, segundo o biógrafo, foram os índios Ona, que pediram a Lucas que solicitasse ao governo argentino a concessão das terras para garantir sua proteção. O livro mostra a rude vida escolhida por Lucas e sua missão de se integrar com os locais, inclusive dominando a língua indígena e sendo aceito e integrado com eles. Dos índios recebeu o nome de Lanooshwaia- O homem da baía do pássaro carpinteiro (que deu título ao livro). No decorrer da leitura, a figura de Lucas se torna simpática ao leitor. Mas, apesar disto tudo, pode-se analisar o caso do ponto de vista mais geral. Porque aceitar que ceder terras indígenas para um estrangeiro seria a melhor forma de proteger os índios? Aceitar isto é desconsiderar que quem tem obrigação de proteger e preservar a cultura nativa é o governo argentino e não um indivíduo. Além do mais, Lucas é apresentado como um benfeitor, mas depois de um tempo se deslocou para desbravar o sul do Chile, da mesma forma que fez na Argentina. Aí, cai por terra justificativa que ele usou para tomar conta das terras da tribo dos Ona, na Argentina. Como assim? O benfeitor nem ficou toda a sua existência ali protegendo? Ele deixou as terras sendo gerenciadas por seus familiares. Lucas se tornou, igualmente, fazendeiro no sul do Chile. É um pouco cansativo, raciocinar sempre do ponto de vista do invasor inclusive usualmente o colocando num pedestal ou, muitas vezes, sendo estudado nas escolas como heróis da nossa história latino-americana. Assim, Lucas pode ser considerado um personagem contraditório. De um lado foi uma boa pessoa ao ponto de conquistar tribos selvagens e ter escolhido um estilo de vida como o destes nativos. Mas não deixa de ser um tipo de conquistador de terras indígenas.
Parece uma lógica de comportamento situada na longínqua era antiga, sem avanços. Cadê a humanização do planeta? E com este tipo de conquistas/invasões chegamos ao século XXI com 70 milhões de refugiados? É algo grave e inconcebível.
Achei interessante o livro pela riqueza de detalhes sobre a cultura nativa e o tipo de vida na Terra do Fogo. E ficou aquele gostinho amargo de saber que assim caminha a humanidade, invadindo/conquistando. O livro ainda cita que era comum, nesta época, grupos de exploradores invadirem aquelas terras roubando as riquezas locais, especialmente a prata. O livro se omite em questionar a conquista destas terras. Tudo é descrito como uma divisão entre conquistadores amigáveis contra conquistadores violentos. Mas a questão está na base, ou seja, na atitude de ser conquistador e suas consequências para a vida futura dos nativos destes locais.
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